A verdade sobre a Mídia Ninja

Ainda mais se formos verificar as concepções do FdE para expansão de sua rede capilarizada. Em relato recente que circula nas redes sociais (confira aqui a íntegra), a cineasta Beatriz Seigner dá exemplos chocantes de como o que menos importa na rede de coletivos é a arte, mas a expansão da marca FdE, mesmo que para isso seja necessário aliança com vereadores, secretários de cultura, empresários e congêneres, que não desejam nem de longe a melhoria dos serviços básicos para a população e democratização da informação e da cultura.Uma amostra dessa contradição é a aversão que muitos grupos políticos mais contestadores e com base na periferia, como o movimento do Hip Hop em São Paulo, as Mãe de Maio, o Cordão da Mentira, a Associação de Moradores da Favela do Moinho, entre outros, costumem expulsar membros do FdE de seus atos, pois são acusados de quererem representá-los sem terem esse direito, junto a políticos governistas e conservadores da pior espécie.“Ah, mas eles cobriram e estão cobrindo os protestos”. Sim, mas até agora, a cobertura não entrou em contradição direta com os interesses que estão por trás deles, até pela massividade que atingiram (vide que a própria grande imprensa passou a apoiar os protestos). Eles acompanharam o público jovem das redes sociais nas marchas, que é sua fatia de mercado e seu principal termômetro. Sem contar que, segundo Seigner, é prática comum a produção cultural de um indivíduo ser "despessoalizada" para que o FdE apareça como grande realizador, mesmo a pessoa em questão não se reivindicando parte do coletivo. Ou seja, está em cheque também a autoria dos vídeos produzidos.Mundo analógicoHouve méritos evidentes. Os ninjas foram às ruas e "inauguraram" de verdade a transmissão via celular em tempo real no Brasil. Conseguirem fazer algo nacionalmente relevante, de forma alternativa e com poucos recursos. Mas o que devem fazer os milhares de jornalistas de pequenas redações de todo o Brasil que sofrem com os diversos problemas da categoria? E os trabalhadores que consomem a informação que ainda é analógica?A insatisfação de Torturra com as péssimas condições do trabalho jornalístico no país é correta, mas desemboca numa saída errada. Em vez de se questionar sobre como alterar as estruturas que regem os grandes meios de comunicação (braços ideológicos dos poderosos, e que utilizam concessão pública – como os canais de TV aberta, para funcionarem com finalidades privadas), militando por medidas como estatização sob controle dos trabalhadores e da população de canais de televisão, o jornalista preferiu fundar um grupo que pode atuar de imediato, mas que, no máximo, instiga os demais membros da categoria a terem iniciativas parecidas.Ocorre que essa saída não questiona o modo como a produção de informação no Brasil está pautada. Pelo contrário, ela até o corrobora. Se o modelo FdE/NINJA se expandisse, empresas privadas capilarizadas em rede, que exploram, sob condições distantes das estabelecidas pela lei burguesa (veja mais aqui e aqui), a mão-de-obra dos “colaboradores”, seriam fortalecidas. Sem contar que simplesmente não existe espaço para que todos os profissionais sigam esse método e consigam se manter em condições dignas.Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o produtor cultural Pablo Capilé, idealizador do FdE, afirmou que a NINJA pode oxigenar a mídia convencional.A população não quer que a mídia tradicional se oxigene para usar de forma privada um direito que deveria ser público (o acesso à informação de qualidade) e, assim, encher seus bolsos reforçando estereótipos ou criminalizando os trabalhadores e o povo pobre. A luta é para que haja uma real democratização dos meios, para que os trabalhadores possam escolher o que assistir, ler e produzir.A Mídia NINJA mostrou que há um espaço importante de contrainformação mal utilizado pela esquerda na internet, especificamente nas redes sociais. Mas um jornalismo alternativo não pode se contentar em obter sua reserva de mercado, sendo financiado por governo e empresas, enquanto a mídia corporativa se mantém intacta e os jornalistas e a população vivem no mundo analógico que o FdE diz não existir mais.
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